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segunda-feira, 18 de maio de 2015

Igreja Nossa Senhora de Fátima

Pároco da Igreja Nossa Senhora de Fátima, no Pechincha, monsenhor Jan Kaleta comemora, dia 18 de maio, 40 anos de sacerdócio e mais um aniversário natalício. Para celebrar a data, a comunidade paroquial programou missa em ação de graças no mesmo dia, às 19h, presidida pelo Cardeal Orani João Tempesta.
Polonês, nascido numa pequena cidade montanhosa no Sul do país, em uma família pequena e religiosa, Jan Kaleta, quando criança, acordava bem cedo para servir na missa das 6 h da manhã na Paróquia Santa Madalena, cujo pároco era o padre Casemiro, um homem atencioso e que acompanhava com carinho os jovens meninos. Mesmo no cruel inverno, com temperaturas de -15°C, estavam pontualmente na igreja para ajudar na celebração eucarística.

Na década de 1950, ano em que Jan nasceu, o comunismo era muito forte e presente entre os poloneses, que já haviam perdido mais de seis milhões de habitantes, a maioria judeus, por conta das guerras. Onze anos antes de nascer, o país foi invadido por tropas nazistas e soviéticas. Por conta disso, ninguém sequer ousava falar algo sobre vocação religiosa. 
“Até mesmo os cristãos sofriam uma perseguição velada, mas as famílias permaneciam unidas pela fé. Todos estavam muito calados com relação à religiosidade, ninguém falava nada sobre a vocação. No Natal de 1967, fiz um retiro e encontrei quatro amigos da escola. Queríamos ser padres, mas não podíamos dizer nada para não prejudicar nossos estudos, pois naquela época, quando o diretor da escola sabia que alguém queria ser religioso, o próprio prejudicava os alunos. Havia um esquema para tirar a vocação dos jovens. A religiosidade estava sendo tão forte quanto o comunismo. Era impressionante como as famílias se uniam na fé. Mas sempre tinha alguém do partido nas paróquias observando o que os padres diziam e se a juventude era presente”, explicou.

Após terminar os estudos, o jovem Jan enviou uma carta ao Seminário Arquidiocesano de Cracóvia, onde foi admitido e recebido pelo então Cardeal Karol Woytila, em outubro de 1968. No segundo ano como seminarista, foi convocado pelos comunistas para fazer parte do serviço militar. 
“Dos 60 seminaristas que entraram comigo, apenas dez foram convocados para servir. Tentei imaginar o porquê fui escolhido, e lembrei às vezes em que me recusei a segurar a bandeira vermelha nas manifestações de 1º de maio e de me posicionar contra o governo. No mesmo momento, recordei de quem estava sempre nas igrejas observando. Talvez ele tenha marcado a minha pessoa. Servi por dois anos. Na verdade, não era um serviço militar, mas sim uma lavagem cerebral com o intuito de tirar a vocação do meu coração”, contou.

Após um período nas Forças Armadas, no dia 18 de maio de 1975, o jovem Jan nasce de novo, da mesma forma que Jesus pede a Nicodemos. Dessa vez ele se torna padre Jan Kaleta. Junto a ele, mais 47 seminaristas foram ordenados na Catedral de Santo Estanislau, em Cracóvia, pelo Cardeal Woytila.


No dia 28 de setembro de 1978 chegou a notícia de que o Papa “Sorriso de Deus”, João Paulo I, havia falecido após um mês de pontificado. Foi então que o Cardeal Woytila saiu depressa rumo à Roma.

“Lembro que estávamos nas montanhas fazendo uma visita aos padres, o que é um costume na Polônia, no qual cardeais, bispos e sacerdotes realizam essa missão. Quando chegou a notícia de que o Papa João Paulo I havia falecido, o Cardeal Woytila se retirou rapidamente, viajou para Roma e nunca mais voltou como cardeal. Em menos de um ano, retornou à Varsóvia como Papa João Paulo II, gritando na Praça da Vitória a frase que guardamos até hoje: ‘Deixe o Espírito descer e renovar a face da Terra’”, lembrou.

Em terras brasileiras

Padre Jan Kaleta trabalhou por nove anos na Polônia, mas sentia uma inquietude, um desejo de fazer algo a mais. Um padre brasileiro de Volta Redonda (RJ) estava passando férias na Polônia e o convidou para servir no Brasil. Pouco tempo depois, padre Jan conversando com o cardeal local contou o convite que havia recebido.


“O Cardeal Francisco me disse: ‘Já temos uma missão para você. O cardeal brasileiro, Dom Eugenio Sales, nos enviou um convite. Você não vai à Volta Redonda, mas vai ao Rio de Janeiro’. A decisão não foi minha, mas sim de Deus e de Nossa Senhora”, disse.

A chegada aconteceu em dezembro de 1984. Passou cinco meses na Paróquia Nossa Senhora de Copacabana aprendendo português e auxiliando monsenhor Abílio. Em seguida, passou pelas paróquias São Cosme e São Damião, no Andaraí; Menino Jesus de Praga, na Vila Aliança, em Bangu, e Nossa Senhora da Anunciação, em Irajá, na qual permaneceu de 1986 a 1994.

“Em 1994 falei com Dom Eugenio. Estava muito cansado e queria tirar umas férias. Precisava de um ano para pensar e repensar, mas saí de Irajá com o pensamento de que não voltaria mais ao Brasil. Queria ir a qualquer lugar que não fosse o Brasil. O cardeal de Cracóvia disse que a Suíça precisava de padres e fui. Quando recordei toda a devoção, piedade e a fé do povo brasileiro, resolvi voltar sem pensar duas vezes. Não sabia o que os bispos iriam achar, mas queria viver no Rio de Janeiro. E mais uma vez fui recebido de braços abertos”, sublinhou.

Ao retornar em 1996, padre Jan assumiu a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Pechincha, na qual está atualmente. 

Um serviço que gera frutos

Padre Jan Kaleta foi nomeado pelo então arcebispo Dom Eusébio Scheid como primeiro vigário episcopal do Vicariato Jacarepaguá, no qual atuou por oito anos. Como pároco, a preocupação era a juventude. De acordo com o padre, é necessário cuidar das vocações. Todo o trabalho e dedicação aos jovens gera frutos até os dias de hoje.

“Precisamos ter uma preocupação muito grande com as vocações. Enviamos três jovens paroquianos para o seminário: o Caio, que está no Seminário Arquidiocesano de São José; João Pedro e Pedro Luís, ambos no Seminário da Diocese de Petrópolis. Nossa preocupação é a juventude. Participaram do encontro “Adolescentes com Cristo” mais de 400 jovens e que, em sua maioria, atuam na Igreja dentro de pastorais e na Iniciação Cristã. É uma alegria ver que todos os dias temos coroinhas na paróquia. A jovem Ana Claudia, assim que cheguei, entrou para o Carmelo. A irmã Solange está no Santuário da Divina Misericórdia, na Polônia. Eles são nosso orgulho. Isso é um sinal de que as pessoas atendem ao chamado de Deus e nós precisamos dar forças”, reforçou.


Lembranças de quatro décadas

“Quando o Papa João Paulo II veio ao Rio de Janeiro em 1997, eu era o responsável pela casa pontifícia, no Sumaré. Dom Eugenio teve essa delicadeza e me concedeu essa missão. O mais incrível é que o Papa se recordava do meu nome. Era até difícil de acreditar. Numa outra visita em 1991, na cidade de Brasília, organizamos uma peregrinação com os padres poloneses e fomos até lá. Estávamos no meio do povo quando o Papa passou na procissão de saída. Então começamos a gritar uma frase em polonês. O secretário do Papa ouviu e nos chamou. Nesse momento, parece que um ‘mar vermelho’ se abriu para que passássemos e fôssemos ao encontro dele”, contou entre risos.

Dentre os 40 anos como sacerdote, as lembranças que monsenhor Jan Kaleta guarda com carinho são os momentos da ordenação e a chegada ao Brasil. Com o lema do terceiro capítulo do Evangelho de São João, repetido no dia em que nasceu para servir a Deus e aos irmãos, ele segue se esforçando para que a cada dia o pastor cresça e a ovelha diminua. Recordando sempre a perseverança que teve quando menino e jovem durante as perseguições espirituais e humanas, o que ele deseja é que todos sejam mártires do século 21 ou ao menos homens e mulheres com coragem de anunciar a Boa Nova.

“Precisamos perseverar e rezar pelas vocações, pelos sacerdotes e pelo povo de Deus. Temos de ser mártires do nosso tempo, assim como Santo Estevão, São Sebastião, Santa Inês e tantos outros foram em seus séculos. Lembro do padre Jerzy Popieluszko, que era muito radical na Polônia e não tinha medo das intimidações.
Ele incomodava o governo comunista com um discurso que defendia a dignidade de ser ministro de Cristo e da Igreja e a liberdade de todos aqueles que, como ele, eram oprimidos e humilhados. Após celebrar uma missa, foi perseguido e morto pelos comunistas. Ele foi beatificado no dia 6 de junho de 2010. 
É um mártir do nosso tempo, entregou a vida pela causa do Reino de Deus. Ser padre é uma graça de Deus, e agradeço por minha vocação todos os dias. Mas servir no Brasil completou o meu chamado. Só posso agradecer por toda acolhida e paciência que os cariocas têm comigo. Vamos servir até quando Deus quiser. Quarenta anos ainda é muito pouco”, concluiu.