Todavia, é constrangedor ver, pelas ruas das cidades, nossos irmãos catadores puxando carroças, vasculhando os depósitos de lixo nas calçadas, para recolher material reciclável. E mais surpreendente, ainda, é ouvir alguém dizer que eles são "agentes ambientais" e que estão ajudando a cuidar do nosso planeta. Assim, puxando carroça, não é justo.
É nosso dever de cidadão, de cristão, procurar reverter essa situação, para que os catadores de material reciclável tenham condições mais dignas de trabalho, como merecem. E nem é preciso inventar a roda, pois existe o Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis e o Programa Pró- Catador .
Esse Programa tem "a finalidade de integrar e articular as ações do Governo Federal voltadas ao apoio e ao fomento à organização produtiva dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, à melhoria das condições de trabalho, à ampliação das oportunidades de inclusão social e econômica e à expressão da coleta seletiva de resíduos sólidos, da reutilização e da reciclagem por meio da atuação desse segmento.
" E existe, também, verba para essa finalidade, conforme afiançou o então Presidente Lula, em uma de suas reuniões com os catadores.
Por que, então, essas ações para a inclusão social dos catadores não são implementadas em todo o território nacional? Pelo menos, aqui, em Fortaleza não se tem registro de ações que tenham mudado a vida dos catadores. Eles continuam puxando carroças. Contudo, identificamos algumas ações desenvolvidas por entidades governamentais e não governamentais, porém, insuficientes para reverterem esse quadro de trabalho degradante dos nossos irmãos catadores. Eles precisam sair das ruas, não porque atrapalham o trânsito, ou porque os cidadãos acham que enfeiam a cidade, mas, porque merecem um trabalho digno como ser humano. O trabalho deles deve ser em galpões, devidamente equipados, para as atividades de seleção e preparação do material reciclável e posterior venda às empresas recicladoras.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-FynNdNwFn6cahPGXxu-mmSejJYf5SIZdsDS7y0uSy7D55ux9O4rZWuML2Fkib4ZhTBytc1xUNqBoiQ7_58WddFBfwNAeTClEehzGwzffZtrJiLLV47DNy6eKcguT5MdAByELTxjCAGVz/s400/empresa_de_reciclagem.jpg)
É bom lembrarmos que a coleta do lixo é uma das atribuições das Prefeituras Municipais. Se os catadores estão nas ruas puxando carroças, para recolherem material reciclável, é por falta de opção de emprego. Antes, não se falava em coleta seletiva. A coleta era do lixo, simplesmente. Esse lixo, em razão dos avanços tecnológicos, do aparecimento dos descartáveis, muitos deles de difícil decomposição, passou a saturar mais rapidamente os aterros sanitários, gerando problemas sérios à natureza. E, nesse quadro, apareceram os catadores de material reciclável, que vislumbraram nisso a possibilidade de obter um ganha-pão. Isso, no nosso entendimento, não desobriga o poder público de suas responsabilidades, mesmo porque as leis federais n.º 11.445, de 5 de janeiro de 2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, e a de n.º 12.305, de 2 de agosto de 2010, que trata da Política Nacional de Resíduos Sólidos, responsabilizam os Municípios pela coleta seletiva e pela inclusão dos catadores.
Não só as Prefeituras precisam se adequar a essa nova realidade, mas todo cidadão, que deve estar consciente da necessidade de gerenciar o lixo que produz e adotar novos hábitos, como o do consumo consciente e até o do simples gesto de não jogar papel no chão. Se o objetivo do Decreto federal n.º 5.940, de 25 de outubro de 2006, é a inclusão social dos catadores, que sejam, pois, construídos nas comunidades galpões a serem administrados por associações de catadores, onde possam receber o material reciclável, colhido, evidentemente, pela Prefeitura em caminhões apropriados para esse fim.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPtbbBCcAdBhr4ZB-RYcb7Uj8ub5Qf-t5ZcY4VgmYIAYZBgYo74nDX1vvAVAoHt69BtiTNRbdkkPNk6SzjO8OQF4rQ1eSIZRr7CTNlKz5l26uijhUP8DhyphenhyphenAzg6qwmfgYqtw_QXYCjxE46h/s400/Lixo-de-Reciclagem.jpg)
Em Fortaleza, a quinta capital mais populosa do País, ainda que a Prefeitura passasse a adotar a sistemática da coleta do lixo diversificado, não haveria condições de executá-la, de imediato, por falta de conscientização da população sobre coleta seletiva e inexistência de galpões em quantidade suficiente a essa finalidade, pois existem, apenas, cinco galpões. Fazem-se necessárias, também, algumas ações, como capacitar os catadores, proporcionar uma educação ambiental para eles e seus filhos, dar-lhes assistência médica e condições dignas de habitação.
Felizmente, já existe, no Brasil, uma parcela de catadores organizada em associação ou cooperativa, bem como um movimento de caráter nacional, que já obteve uma grande vitória, que foi o reconhecimento da profissão de catador pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Urge que as autoridades constituídas e a sociedade em geral entrem nesse processo para ajudar os catadores e o meio ambiente. A Campanha da Fraternidade de 2011 nos remete, hoje, para uma análise do que está ocorrendo no nosso planeta.
E, vendo tudo isso, à luz do evangelho, somos levados a concluir que a criação é uma obra perfeita de Deus e que, dentre as suas criaturas, coube ao homem a tarefa de gerenciar esta maravilhosa engrenagem de Deus. Tudo está interligado, terra, plantas, animais, ar, água e humanidade. Contudo, por entender o homem (ser pensante da natureza), que poderia dispor de tudo isso como lhe aprouvesse, estamos, agora, sentindo os efeitos dessa desastrosa administração das coisas de Deus. Quem sabe, se houver uma conscientização urgente disso, poderemos reverter essa situação. Maria Inês Pinto Bessainbessa@gmail.com
Fonte: Pe. Geovane Saraiva Local:Fortaleza (CE)
Nenhum comentário:
Postar um comentário