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POR MICHEL BLANCO
Por que presidenta?
A placa do lendário Rolls-Royce Silver Wraith que percorreu a Esplanada dos Ministérios no primeiro dia do ano não deixava dúvidas sobre sua principal ocupante: “Presidenta da República”. Desde a posse, Dilma Rousseff se lança a construir uma imagem. Seja como último toque do marketing político que marcou a campanha ou como primeiro gesto liberto do manual eleitoreiro, a questão do gênero emerge somente agora como grande força simbólica. Finalmente, um pouco de emoção.
A escolha por “presidenta” e não “presidente” – igualmente aceitos pela gramática – não é um detalhe à toa. Valoriza um significado histórico da eleição, a condição inédita da mulher no posto máximo da República. “Hoje será a primeira vez que a faixa presidencial cingirá o ombro de uma mulher”, disse Dilma no discurso inaugural. Em respeito à preferência dela, alguns veículos anunciaram adesão ao termo presidenta. Este portal fará o mesmo.
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Ironicamente, o dia que pode ter dado início a uma desejável transformação na representação social da mulher, ampliando sua vinculação com o espaço público, celebrou também o lugar tradicional da mulher na vida privada, o da esposa. Marcela Temer, mulher do vice, roubou a cena, com cabelo à Rapunzel para exibir o nome do marido tatuado na nuca.
Símbolos à parte, a questão de gênero deve ser posta em termos práticos se Dilma quiser cumprir a meta prioritária de acabar com a pobreza extrema. Para isso, terá de contar com as mulheres. A participação das mulheres na força de trabalho no Brasil ainda é muito inferior à dos homens, e a renda estimada delas equivale a apenas 60% do rendimento deles.
É essencial ampliar a oferta de creches para mulheres pobres, o que comprovadamente contribui para a elevação da renda familiar. O déficit nessa área é gigantesco: menos de 20% das crianças brasileiras com até 3 anos estão na creche. A pesquisadora Lena Lavinas vai ao ponto: “Investimentos sociais em infraestrutura que liberem a força de trabalho feminina são a melhor maneira de combinar políticas de equidade de gênero com redução da miséria.”
Espera-se da presidenta sensibilidade especial ao tema, a julgar também pelo papel de mulheres em seu governo, do ministério com nove pastas ocupadas por ministras até às policiais que fazem a segurança de Dilma. Contudo, possíveis políticas de equidade do gênero na gestão Dilma tendem a ganhar maior legitimidade naquele que se apresenta como traço mais marcante de seu governo: a continuidade.
Apesar de enaltecer sua condição de mulher, ela não tenta ser diferente do antecessor. Da campanha à posse, prometeu continuidade. Foi eleita justamente por isso. E pôs fim ao paradigma de excepcionalidade do governante, em que a transição de um governo para outro se dá sob o signo do novo.
A imagem que Dilma busca refletir não repousa no carisma de quem porta a faixa presidencial, mas na instituição que ela representa. A presidenta assume o poder sem carregar nas tintas de sua biografia; farta de episódios heróicos na juventude, mas também com a maturidade repleta de momentos tão ‘empolgantes’ como podem ser despachos administrativos nos escaninhos da burocracia. Está aí a natureza da discrição que marcou seus primeiros dias de governo.
De guerrilheira nerd, Dilma chega ao Planalto como uma pessoa comum. Uma tiazinha, com todo respeito.
12.01.11 - 19H13
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